DJUENA TIKUNA: CANTORA INDÍGENA USA MÚSICA EM PROL DA PRESERVAÇÃO E RESISTÊNCIA DE SEU POVO

Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real
A cantora Djuena Tikuna é dona de um feito inédito. Ela foi a primeira indígena a protagonizar um espetáculo musical no Teatro Amazonas, em mais de 120 anos de existência do local, no lançamento do seu álbum “Tchautchiane”, em 2017. A cantora nasceu na Aldeia Umariaçu II, da etnia Tikuna — de onde vem seu sobrenome —, no município de Tabatinga (AM). A região faz fronteira com a Colômbia e o Peru, no Alto Solimões, onde o rio “banzeira as fronteiras”. Daí também a inspiração para o nome Djuena, “a onça que pula no rio”. 

Ainda criança, Djuena se mudou para Manaus, capital do estado, onde cresceu, estudou e se formou em jornalismo, tornando-se também a primeira jornalista indígena formada no estado. Mas foi na aldeia que seu interesse pela música surgiu.

Parte fundamental da cultura de qualquer povo indígena, a música tem suas especificidades em cada nação. O povo Tikuna, em especial, canta “para fazer o mundo girar e para o sol, no alto do céu, não cair”. Djuena conta que para eles a música é formadora de caráter e que é através dela que são instruídos comportamentos a serem seguidos dentro da aldeia: “A cantoria é nossa identidade. E de certa forma une todos os povos indígenas em uma só canção”.

Djuena Tikuna foi a primeira jornalista indígena formada no Amazonas / Foto: Reprodução YouTube
Djuena Tikuna foi a primeira jornalista indígena formada no Amazonas / Foto: Reprodução YouTube

É na cultura indígena que Djuena encontra sua influência musical, seja ela parte do povo Tikuna ou não, a exemplo de Cintia Guajajara, cantora indígena da nação Guajajara, do Maranhão. Além dela, Djuena também cita a própria mãe como referência, Totchimaüna Tikuna, cantora do tradicional grupo Wotchimaücü: “Na minha opinião ela desenvolveu, ao longo de sua carreira, uma contribuição muito grande para a música indígena, pois foi formadora de um público sensível a nossa arte”.

Djuena ainda destaca a importância do canto para questões que atingem diretamente a sobrevivência de povos indígenas. “Toda arte indígena é uma forma de resistência. Não tem outro sentido que não seja esse. Pois, há 519 anos, nós resistimos e vamos continuar resistindo. A música que fazemos por si só já traz essa mensagem, e precisa ser assim mesmo. Todas as conquistas que tivemos foi porque aprendemos a resistir. Assim tem sido ao longo de minha carreira”.

Ela lembra, inclusive, de sua apresentação no Teatro Amazonas como um exemplo de momento histórico nesse sentido: “o Teatro Amazonas, construído no apogeu da Borracha, período de maior destruição física e cultural do povo Tikuna, teve que receber, pela primeira vez, em mais de 120 anos de história, um show de uma artista indígena. Lotamos o Teatro com a participação de artistas indígenas representando várias regiões do Amazonas, com direito a fala de lideranças do movimento indígena, quebrando o protocolo da casa”.

Djuena encontra identidade na cantoria indígena / Foto: Reprodução YouTube
Djuena encontra identidade na cantoria indígena / Foto: Reprodução YouTube

O sucesso da ocasião abriu espaço para a realização do WIYAE — Primeira Mostra de Música Indígena do Amazonas, em 2018, que contou com a participação de mais de 20 grupos indígenas, novamente no teatro amazonense.

Além desse feito, a carreira musical já levou Djuena a festivais e shows dentro e fora do país, possibilitando que ela conhecesse outros “parentes”, como ela se refere. Ano passado, a cantora foi indicada ao Indigenous Music Awards, maior premiação mundial da Música Indígena, que acontece no Canadá. Lá, ela teve a oportunidade de conhecer os Cree e Anishinaabe, primeiros povos canadenses.

Agora, Djuena está em fase de produção do segundo trabalho e pretende lançá-lo ainda este ano. Enquanto concilia a agenda de shows e eventos, também pretende lançar este ano um Portal de Notícias Indígenas para divulgar o próprio trabalho e, principalmente, contribuir com a luta do movimento indígena e dar voz a outros artistas. “Eu espero que minha música continue fazendo parte da trilha sonora dos que lutam”.

De: reverb.com.br

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